Na primeira grande sala do Museu Diocesano de Santarém, serve de eixo orientador à temática do Mistério da Encarnação, esta escultura da Imaculada Conceição, padroeira da Diocese, orago da Catedral e de muitas das paróquias do nosso território.
Propriedade da Paróquia de Santo Eustáquio de Alpiarça, integra um conjunto significativo de peças que por esta comunidade foram cedidas ao museu, permitindo assim a sua recuperação e posterior valorização. Neste caso particular, esta escultura está enquadrada em retábulo de talha dourada, que se encontrava na sacristia, aí depositado após uma deslocação de outro local de culto, na primeira metade do século XX.
Desconhece-se o seu autor, que a terá executado na segunda metade do século XVII, muito provavelmente numa oficina lisboeta. Apresenta, como aspetos particulares, os longos cabelos dourados que, sem véu cobrindo a cabeça, caiem sobre os ombros e costas, e as vestes de angulosos pregueados, onde predominam as cores azul e dourada, procuram sugerir o movimento da representação, que só no século seguinte os escultures barrocos conseguiram imprimir às suas produções.
De rosto sereno e jovem, as mãos apostas em posição orante, recordam a atitude de Maria: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra» [Lc 1, 38].
E esta atitude, este serviço, está-lhe marcado no coração desde a sua génese. Deus predestinou-a sempre cheia de graça, desde a conceção no ventre de sua mãe, Ana.
Tota pulchra es, amica mea, et macula non est in te (Ct. 4,7), diz-nos o Cântico dos Cânticos sobre aquela que, desde o Génesis, estava predestinada a pisar a cabeça da serpente, tornando-se digna de conceber no ventre o Filho de Deus. E, no final dos tempos, é a Cheia de Graça o grande sinal: uma mulher vestida de sol, com a lua debaixo dos pés.
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