Inauguração do Museu Diocesano de Santarém

2 Outubro, 2014 | Do museu, Notícias

No dia 12 de setembro de 2014 teve lugar a inauguração do Museu Diocesano de Santarém presidida por Sua Excelência o Presidente da Républica Aníbal Cavaco Silva (ver excerto do discurso). Ocorreu igualmente, em estreia mundial a Cantata Mundi de Rodrigo Leão. Usou da palavra o Senhor Bispo de Santarém D. Manuel Pelino, que aqui se reproduzem:

MUSEU DIOCESANO- IMAGENS DA NOSSA FÉ
1. Uma obra fruto da acção concertada de muitos para benefício de todos
Como Bispo da diocese de Santarém incube-me a honra de dar as boas vindas e apresentar as cordiais saudações a todos os presentes que se dignaram participar na abertura do Museu Diocesano: Sua Excelência o senhor Presidente da República e sua esposa; Sua Excelência Reverendíssima o senhor Núncio Apostólico; o Senhor Director da Direcção Geral do Património Cultural; Sua Excelência Reverendíssima o senhor Dom Pio que preside à Comissão Episcopal dos bens culturais; os senhores deputados e deputadas; o senhor presidente da Câmara de Santarém e demais autarcas; o senhor vice presidente do InAlentejo em representação do presidente; as excelentíssimas autoridades civis, militares e académicas; os ilustres convidados e benfeitores desta catedral.
Esta obra foi possível com a acção empenhada e concertada de muitas entidades civis, culturais, políticas e eclesiais. Tem desde as origens a preocupação do bem comum e a marca da cooperação. Sem ter ouvido ainda a “cantata Mundi” do grande compositor Rodrigo Leão, parece-me que o subtítulo traduz bem esta perspectiva de universalidade: “Todos somos terra e céu, todos somos mundo”. Neste caso, todos sentimos a transcendência e o humanismo do património cultural, todos nos identificamos com este universo da arte. O meu reconhecimento a Rodrigo Leão, a Rui Baeta, a Margarida Encarnação e a todos os intérpretes.
Foi um projecto desenvolvido no âmbito do acordo de cooperação entre o Estado e a Conferência Episcopal para a implementação da Rota das Catedrais. Constitui um exemplo de, como unidos para servir o mesmo povo, podemos fazer muito. A diocese de Santarém acreditou e aderiu desde a primeira hora a este projecto, através da comissão dos bens culturais liderada pelo P. Joaquim Ganhão actual Director do Museu a quem manifesto grande reconhecimento. Encontrou no então Director da Direcção Regional de Cultura de Lisboa e Vale do Tejo, Dr João Soalheiro, um contributo precioso e um acompanhamento dedicado até hoje. Bem haja, Dr João Soalheiro. A Direcção Geral do Património Cultural prestou igualmente toda a colaboração possível e acompanhou empenhadamente a obra através de vários técnicos dedicados a quem agradecemos. Um vivo agradecimento aos quadros técnicos do InAlentejo na pessoa do senhor Vice Presidente, Dr. Costa Silva, pela pronta resposta a todas as nossas solicitações.
Uma palavra de gratidão amiga ao município de Santarém na pessoa do seu presidente Dr Ricardo Gonçalves pela parceria interessada e dedicada. E não esquecemos o contributo decisivo do anterior presidente, Dr Moita Flores, no lançamento deste projecto. Uma palavra de louvor às empresas construtoras, AOF, Planex e a todas as outras que, com profissionalismo e atenção, colaboraram na execução da obra.
A participação orgânica funcionou igualmente no interior da diocese pois o Museu é organizado com a participação voluntária e interessada das paróquias, comunidades e respectivos pastores e colaboradores. O meu louvor por esta participação comunitária e esclarecida e pelo papel relevante das técnicas dos serviços diocesanos. A diocese é uma comunhão de comunidades onde a circulação de bens devia ser sempre uma expressão da comunhão espiritual. Por vezes, há receio e desconfiança das paróquias face à diocese de perder a propriedade dos bens culturais. Mas a missão da diocese, como comunidade mãe, é dar a conhecer a riqueza das suas células, salvaguardar, valorizar, colocar a arte sacra à fruição de todos. Muitas das obras hoje restauradas estavam fechadas e esquecidas nas paróquias, algumas mesmo em ruinas. Agora, recuperadas, podem ser contempladas e admiradas por todos. Reunidas em museu, manifestam uma visão mais rica e mais ampla do património eclesial. Tornam-se, por outro lado, um incentivo para cada comunidade cuidar do seu património. Esperamos, assim, um futuro mais atento ao património artístico e agradecemos, nesse sentido, o relevo que os Meios de Comunicação Social têm dado a este evento.

2. Catedral e Museu, uma leitura grandiosa da pessoa e da vida.
A Catedral é ícone e instrumento da comunhão eclesial dos crentes e das paróquias. A nossa, como templo católico do período da Contra Reforma, com o seu estilo barroco, manifesta uma visão positiva da pessoa humana, caracterizada pela alegria da vida, pelo encanto do mundo à luz da fé, pela dimensão comunitária do cristianismo. Também o Museu diocesano propõe o mesmo horizonte de fé e de esperança. Toda a obra de arte sacra é uma leitura do mistério do homem, da vida e do mundo. As que estão expostas no Museu são verdadeiramente um convite à contemplação e à transcendência. Na organização criteriosa e feliz da exposição, cada uma das salas é introduzida pelo “Trono da Graça”, como chamamos à representação do mistério trinitário – o Pai que entrega o Filho como luz e salvação e envia o Espírito Santo como força do amor que renova o mundo. A visita torna-se, assim, um itinerário para contemplar a beleza e a bondade do ser humano criado à imagem de Deus.
O Museu diocesano não apresenta apenas a recolha da memória do passado, embora este aspecto seja importante para fortalecer a nossa identidade. Mostra, sobretudo, a representação em linguagem artística, marcada pela beleza, do coração da fé cristã: a vinda de Jesus pela Encarnação; a sua entrega por nós na Paixão e na cruz; a vitória sobre o mal e a morte pela Ressurreição; e o testemunho da Igreja na construção do Reino de Deus que é justiça, paz e alegria. Numa palavra, o Museu diocesano revela-nos o “Credo” em imagens, um credo vivo que fala ao afecto e toca o coração.
Resta fazer votos para que todos os visitantes recebam e conservem esta mensagem de humanismo, de liberdade, de esperança e de alegria que as obras de arte propõem.