(RE)VER A ARTE CRISTÃ – DIA NACIONAL DOS BENS CULTURAIS DA IGREJA | 18 outubro

18 Outubro, 2016 | Do museu

“É assim que a fé se mostra universal, católica, porque a sua luz cresce para iluminar todo o universo, toda a história.”[1]

 

A História comprova que, durante séculos, Arte e Religião viveram de mãos dadas. Unindo-se tornaram-se mais fortes, e assim as suas mensagens permitiram aproximar o homem, de Deus e do belo, percorrendo, através da beleza, a transcendência do sagrado.

A “arte sacra” é, no principal patamar da sua criação, instrumento da e para a Liturgia, veículo de glorificação de Deus e santificação dos fiéis. Torna-se meio de interpretação tangível do Mistério da Salvação, instrumento de fé e de louvor[2].

Muitos foram os que desenvolveram extraordinária produção artística de matriz cristã. Grandes mestres e referências das artes, em cada tempo, imortalizaram o seu nome com notáveis obras de devoção. Em maior número se contam outras produções, simples, anónimas, menos destacadas no panorama artístico, mas que atualmente veem o seu valor reconhecido, pois são elas as únicas representantes da arte e da fé, do seu tempo e no seu espaço.

Um breve exercício de memória trará a recordação de várias notícias, mais ou menos badaladas nos media, tornando públicas ações prejudiciais ao património histórico-artístico, sob tutela da Igreja Católica[3]. Outras, porém, relatam felizes intervenções e recuperações de património religioso, seja ele imóvel, móvel, e até mesmo imaterial. Não se omita, no entanto, que recorrentemente estas ações se associam ao ato da “boa vontade”, e nunca com o objetivo de prejudicar, desvalorizar e, no extremo, destruir.

(retirado de NEVES, Eva Raquel – O património diocesano e as comunidades paroquiais: função, significado e valorização, enquanto representação do território. In EUSÉBIO, Maria de Fátima (coord.)  – Entre Deus e os Homens, a arte na Igreja de Viseu. Viseu: Diocese de Viseu, 2016 (no prelo))

 

Partindo do tema lançado, este ano, para assinalar o Dia Nacional dos Bens Culturais da Igreja, o Museu Diocesano de Santarém divulgará, a cada dia, uma das peças recuperadas no âmbito do projeto Rota das Catedrais em Santarém.

Património móvel, sinalizado no decurso dos trabalhos de Inventário, cujo estado de degradação impedia a sua parcial ou total fruição.

Os trabalhos especializados de Conservação e Restauro, permitiram recuperar o seu valor (material, formal, estético) e significado (cultual e cultural).

Assim podemos (Re)Ver a Arte Cristã!

 

Dia 18 outubro 2016

Encontra-se exposta no Museu Diocesano de Santarém uma pintura que representa São Domingos entregando o rosário a cavaleiros.

Pertencente ao espólio da Paróquia de São Nicolau de Santarém, esta peça foi localizada em 2009, no decurso dos trabalhos de inventário do património móvel.

Apesar do estado da superfície (deposição de poeiras e verniz oxidado) não permitir qualquer leitura, a par de inúmeros processos de degradação, a peça foi guardada, durante vários anos, numa pequena arrecadação.

Foi este cuidado que permitiu sinalizar e incluir esta pintura no conjunto de mais de 350 peças em intervenção, no âmbito do projeto Rota das Catedrais em Santarém, que deu origem ao Museu Diocesano.

O cuidadoso processo de intervenção, a cargo da empresa Nova Conservação, revelou, com surpresa, uma nova imagem de temática dominicana.

O resultado final, e a comparação entre “o antes e o depois”, permitem perceber que os trabalhos de conservação e restauro são um dos primeiros instrumentos para (Re)Ver a Arte Cristã.

 

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São Domingos entrega o rosário aos cavaleiros | Oficina portuguesa (Lisboa) | Século XVII (segunda metade) | Pintura a óleo sobre tela | Paróquia de São Nicolau de Santarém

Dia 19 outubro 2016

Entre setembro de 2009 e abril de 2010, a intervenção de conservação e restauro nos altares em talha dourada da Igreja de São João Batista do Pedrógão, Torres Novas, procedeu ao apeamento do retábulo-mor, estruturalmente debilitado. Esperava-se, com este processo, devolver estabilidade estrutural ao retábulo, procedimento comum em tantas intervenções do género.

No entanto, “o virar” dos elementos acabou por revelar um par de tábuas, dispostas aleatoriamente, reaproveitadas para degrau de trono eucarístico, em cujo verso estava representada a “Anunciação”, pintura que apresentamos.

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Anunciação | Oficina portuguesa | Século XVI (segunda metade) |Pintura a têmpera sobre madeira de carvalho | Paróquia de Santa Maria da Serra e São João Batista do Pedrógão

 

Dia 20 outubro 2016

Durante as obras de reabilitação da Igreja de Santa Cruz da Ribeira de Santarém, promovidas pela DGEMN, terminadas em 1963, esta belíssima escultura do século XVIII, representando Nossa Senhora da Conceição, localizava-se no altar da Sala da Irmandade do Santíssimo Sacramento (uma ampliação do edifício executada em 1715).

Apesar da intervenção ter mantido esta sala, adaptando-a a sacristia, um conjunto de bens móveis é recolhido, por iniciativa da DGEMN e por motivos de salvaguarda, ao Seminário de Santarém.

Esta peça, em particular, ocupou lugar de destaque na portaria principal do Seminário, mas a sua posição de difícil acesso acabaria por permitir, com o passar dos anos, a acumulação de poeiras, de tal forma que não era possível observar a beleza das suas formas e do estofado.

Esta é mais uma peça de Arte Cristã, que pode ser (re)vista no Museu Diocesano.

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Nossa Senhora da Conceição | Oficina portuguesa | Século XVIII | Madeira policromada, estofada e encarnada | Igreja de Santa Cruz, Paróquia Santa Iria da Ribeira de Santarém

Dia 21 outubro 2016

Este retábulo maneirista encontrava-se num dos anexos da Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Tancos. Proveniente da igreja da Misericórdia da mesma localidade, que em 1875 já estava extinta, permaneceu à mercê das frequentes cheias do rio Tejo, até ser entregue à Paróquia no ano de 1946.

A deslocação deste conjunto de nove pinturas para a igreja matriz não incluiu a remontagem do retábulo, pelo que, o acentuar dos processos de degradação originou graves problemas de estabilidade do suporte e desgastes significativos da camada pictórica.

Uma intervenção exaustiva, realizada pelo Centro de Conservação e Restauro da Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa, e a exposição no Museu Diocesano, devolveram a este importante conjunto, a dignidade que há muito se almejava.

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Retábulo da Igreja da Misericórdia de Tancos | Atribuível a Simão Rodrigues e Domingos Vieira Serrão | pintura a óleo sobre madeira de carvalho do Báltico e madeira entalhada, dourada e pintada | século XVI (finais) / século XVII (inícios) | Paróquia de Nossa Senhora da Conceição de Tancos 

 

Dia 22 outubro 2016

Pertencente a um conjunto de três pinturas que representam visões de São João na ilha de Patmos (temática rara no contexto patrimonial português), esta peça encontrava-se na torre sineira da Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Azinhaga.

Apesar do avançado estado de degradação, constituiu durante anos uma preocupação para os responsáveis da paróquia, facto que impediu a sua destruição.

A cuidada recuperação permitiu a atribuição de autoria ao pintor Marcos da Cruz (c. 1610-1683), e, segundo Vítor Serrão, estas telas “são do melhor por si produzido”.

Provavelmente retiradas de culto durante obras na nave da igreja, pensa-se que farão parte de uma encomenda alargada, sobre a temática do Apocalipse, para algum dos conventos extintos de Santarém.

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Visão de São João Evangelista na ilha de Patmos: Cavaleiros do Apocalipse | Marcos da Cruz (atribuído) | pintura a óleo sobre tela, século XVII (segunda metade) | Paróquia de Nossa Senhora da Conceição da Azinhaga

Dia 23 outubro 2016

Escultura em terracota, datável do último quartel do século XVI, integra um conjunto notável de património móvel constituído pelas coleções da Igreja de São Paulo e da Capela Real do Bom Jesus de Salvaterra de Magos.

Proveniente da Capela Real, esta escultura de Nossa Senhora da Piedade terá sido retirada do retábulo principal, colocada na sacristia, e substituída por outra imagem, da mesma invocação, encomenda da rainha D. Maria I, em 1785, ao escultor Machado de Castro.

No século XIX o Paço Real sofreu vários danos. A Capela porém resistiu, cumprindo, desde 1863 e até ao início do século XX, a função de igreja paroquial, sendo desde essa época propriedade da paróquia de São Paulo de Salvaterra de Magos.

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[1] IGREJA CATÓLICA, Papa, 2013- (Francisco), Carta Encíclica LUMEN FIDEI, 2013, n.º 48.

[2] Cf. GATTI, Vincenzo (2001), Liturgia e Arte – I luoghi della celebrazione, Bologna: Centro Editoriale Dehoniano.

[3] Cf. EUSÉBIO, Maria de Fátima (2011), Fragilidades na conservação e restauro do património da Igreja: a complexidade das práticas e a problemática dos entendimentos de intervenção. Invenire – Revista de bens culturais da Igreja, 3: 44-46.